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À margem da crise

À margem da crise

Algumas honrosas exceções acendem o fio de esperança ao abrirmos diariamente os jornais e acessarmos demais meios de informação sobre a real situação do País e da sua economia. O noticiário é enfático ao mostrar fatos – desemprego que cresce em ritmo acelerado, setores expressivos da nossa economia anunciando férias coletivas, adoção de lay-off, inadimplência crescente nas empresas. Tudo isso sem falar na descoberta do iceberg da corrupção que tanto desencanta os brasileiros e escancara um esquema ardiloso para sugar o dinheiro dos impostos, penalizando o avanço de setores como educação, saúde e segurança.

Mas também é fato que o Brasil não foi construído apenas dessas doses cavalares de choque de realidade e que seu povo sempre foi reconhecido como alegre, receptivo e, principalmente, otimista. Convenhamos que esse otimismo está fazendo falta agora, para elevar nossos índices de confiança que tanto influenciam o consumo, a produção e o emprego, exatamente nesta ordem. E, como nem só de otimismo vive o homem, há fatos irrefutáveis para comprovar que existem túneis iluminados – isso mesmo, nada de luz apenas no fim de um túnel – que são verdadeiros celeiros de oportunidades para os que optarem pela movimentação, enquanto a grande maioria certamente será abatida pela letargia da tal crise.

Um fato recente, ocorrido no início da década de 1990, entrou para a nossa história: a abertura da economia brasileira ao mercado internacional que tornou o Brasil tanto mais competitivo quanto receptivo aos produtos importados com custos bem mais acessíveis. E despertou o país, inclusive, para a necessidade de interação com o mercado internacional – apenas para ilustrar essa afirmativa, todas as vagas do Módulo Internacional da Universidade de Ohio ofertadas para o ano de 2015 já foram preenchidas, o que nem sempre ocorre no início do segundo semestre.

O Brasil do pessimismo também vai permanecer alheio ao fato de que outros ciclos econômicos anteriores mostravam um país sem saída, mas na verdade chegamos a 2013 passando, inclusive, pela turbulência mundial de 2008, quando o mundo beirava o caos, com a adoção de políticas anticíclicas, estimulando o consumo das famílias. Não pretendemos negar, contudo, que a continuidade dessa política até 2014 acabou aumentando o ônus do ajuste que estamos tendo de enfrentar. Na verdade, deveríamos ter promovido ajustes na direção da produção e não apenas do consumo. Mas foi a forma como o País foi conduzido e isso não pode ser revisto.

Ninguém aqui pretende convencer o leitor de que estamos em um mar de rosas. Mas convenhamos que o setor produtivo se divide entre a necessidade de demitir e a necessidade de contratar. O que separa uma intenção da outra é o perfil das vagas disponíveis: apenas para exemplificar, no momento em que iniciei a redação deste texto , havia 125 vagas para gerentes de projetos disponíveis apenas em um dos inúmeros sites de empregos, com salários chegando a R$ 25 mil.

O que separa o Brasil da crise do país das oportunidades não é apenas o duelo entre a formação nas melhores escolas e a defasagem do ensino do setor público ou mesmo a corrupção ou ainda o escândalo da Petrobras. Mais do que isso: boa parte dos brasileiros que estão vivenciando um cenário de crise pela primeira vez, o que explica — mas não justifica – a surpresa e a letargia.

O que o Brasil precisa entender é que nesta construção existem dois grupos: o dos que irão sucumbir porque vieram remando a favor da maré, que viveu até então o seu ciclo positivo, e aqueles que procuraram prever e se precaver para os tempos adversos. Os últimos, certamente, saberão aproveitar esse momento para adquirir os equipamentos que já haviam planejado, a custos e condições até há pouco tempo inimagináveis, contratarão os talentos que seus concorrentes não puderam reter, além de intensificar seus programas de treinamento. E, sim, estrão aptos a concorrer de igual para igual num cenário em que sustentabilidade, governança e competitividade em níveis interno e externo são conceitos que estimulam. Não amedrontam. Portanto, esteja pronto e com coragem para enfrentar os desafios, Brasil!

 


Artigo publicado no Jornal Diário do Comércio – MG em 19/08/2015.

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