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Empregabilidade futura – Uma incógnita.

Todos os bens utilizados pelo homem no seu dia-a-dia são elementos bastante simples, existentes na natureza, sejam eles de origem vegetal, animal ou mineral. Estão disponíveis, em seu estado natural, sem valor monetário.

Basta se dirigir:

            — a uma floresta e colher uma raiz, um fruto, uma folha, uma semente, ou caçar um animal, uma ave;
            — aos oceanos e rios e capturar um peixe, captar água; ou
            — a uma área e extrair um elemento químico.

Os bens são condição indispensável à vida, independente do estado em que são consumidos ou utilizados.

Nos primórdios da civilização, eram utilizados em estado natural, ou com beneficiamento rudimentar, limitando-se à alimentação e proteção do homem.

A descoberta de ferramentas rudimentares facilitou a produção, aumentando a quantidade produzida por cada grupo familiar, sendo o excedente transferido para outros grupos, evoluindo-se para o sistema de trocas.

O desenvolvimento tecnológico possibilitou a obtenção de bens mais sofisticados, após passarem por várias fases de elaboração para a sua transformação.

Para o consumo do próprio grupo bastavam as fases de Extração e Beneficiamento primário, em que o indivíduo se dirigia à natureza e extraía o bem, que era consumido ou utilizado em seu estado natural ou com um beneficiamento muito rudimentar.

O excedente da produção de cada grupo, conseguido com o emprego de ferramentas rudimentares, foi transferido para outros grupos, surgindo o sistema de trocas, quando então se fizeram necessárias as demais fases de Transporte, Recepção, Estocagem e Distribuição.

O desenvolvimento tecnológico permitiu a obtenção de bens mais sofisticados, necessitando das fases de Beneficiamento secundário e Beneficiamento terciário.

Para a execução dessas fases, bem como de suas subdivisões, são empregadas pessoas, seja para elaboração (operárias); para organização e gestão da produção (empresárias); para fornecer os recursos financeiros que viabilizam o funcionamento das instalações de produção (emprestadoras); ou para suprir a população de serviços públicos, tais como educação, saúde, segurança (governadoras). Cada uma dessas classes de pessoas é remunerada, e justamente o seu somatório é que se constitui no custo dos bens para o consumidor ou usuário final.

Segundo esse conceito, o custo de um bem pode ser definido como “o somatório das remunerações percebidas por todas as classes de pessoas envolvidas no processo produtivo de um bem, desde a fase inicial até a fase final de sua elaboração, ou seja, desde o seu estado natural, sem valor monetário, até seu estado de consumo ou utilização”.

O maior contingente dessas pessoas está concentrado não só na elaboração, montagem, comercialização, administração e movimentação dos bens, mas também nos serviços auxiliares em geral, como saúde, segurança, educação e serviços públicos, isto é, as pessoas que efetivamente executam tarefas que beneficiam o consumidor ou usuário final do bem.

É esse grupo que está deixando o mercado de trabalho e sendo substituído por máquinas e equipamentos mais velozes, pela automação e pela robótica. Além dos robôs da linha de montagem industrial, eles também são usados no levantamento de dados populacionais (recenseador), na vigilância pública (olheiro); os drones e os satélites estão na agropecuária e na segurança.

Para agravar a crise no mercado de trabalho, surgiu a pandemia do corona vírus, que transformou significativamente as condições de trabalho anteriores, acelerando as mudanças que já vinham ocorrendo, revendo preconceitos muito arraigados e levando as pessoas a repensar seus próprios valores.

Ela acelerou o futuro, apesar do sacrifício exagerado de vidas. Rapidamente tudo se transformou, avançando-se muitos anos em alguns meses. Adormeceu-se analógico e despertou-se digital.

Evidenciou-se a viabilidade do trabalho remoto sem grande prejuízo da produção, com redução significativa de atividades em várias áreas tais como:

            — transporte urbano e de longa e média distância;
            — educação e reunião presenciais;
            — locação de áreas comerciais e veículos;
            — venda física e de toda estrutura que ela requer;
            — alimentação (restaurantes);
            — artística e de entretenimento.

Algumas dessas atividades serão substituídas, mas a substituição ocupará um número bem menor de pessoas.
Quais as alternativas para o desemprego? Só o futuro dirá.

Duas são as mais evidentes:

            — ajuda assistencial tipo seguro desemprego e bolsa família, bancada pelos que continuarem em atividade;
            — redução gradativa da jornada de trabalho, possibilitando que mais pessoas executem o que era realizado por menos pessoas.

A segunda alternativa deve ser a preferida por ser mais digna, ou seja, o indivíduo não se sentirá dependente e improdutivo.


livro_renedutra(*) René Dutra, professor e autor do livro “Custos: uma abordagem prática”, 8ª ed, Editora Atlas. Consultor responsável pela implantação de controle e gerenciamento de custos e avaliação e gerenciamento de ativos.

  

  

  

  


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