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ESG: modismo ou imperativo para os negócios?

Two Businessmen holding the increase graph on the hill

Marco Aurélio Morsch | Professor, mestre em administração de empresas, consultor e palestrante.

Entenda o crescimento exponencial das práticas de Governança, Responsabilidade Social e Ambiental e como implantar um Programa ESG.

Ultimamente, é muito provável que você tenha ouvido repetidamente o termo ESG. Ele é um movimento que está ganhando força nos negócios e sociedade e contribuindo para que tenhamos um sistema financeiro global sustentável e economicamente eficiente, além de gerar valor compartilhado a longo prazo para todos os stakeholders do negócio e recompensar os investidores socialmente responsáveis e beneficiar o meio ambiente e a sociedade como um todo.

Simplificadamente, em sentido estrito, “ESG” (environmental, social and governance) é um termo guarda-chuva que se refere à incorporação de questões ambientais, sociais e de governança (ESG) nas decisões de portfólio dos investidores. Em sentido amplo, é uma filosofia de gestão, que leva em consideração fatores além do lucro, como ética, governança corporativa e responsabilidade socioambiental.

Uma tendência com crescimento exponencial.

Este movimento envolve basicamente dois atores sociais. De um lado, os investidores que procuram retornos financeiros acima da média, mas também têm motivações éticas ou esperam que seus investimentos contribuam para promover impactos socioambientais. E do outro, aquelas organizações comprometidas com uma filosofia de administração coerente com os novos tempos, com base na era do propósito, do capitalismo consciente e do Triple Bottom Line, ou Triplo resultado: profit, people e planet (leia mais em: “Empresas com propósito: oito dicas para implementar“). Investidores sustentáveis ou éticos, como são chamados, procuram sobretudo:

          • Reduzir o risco de seus investimentos;

          • Obter desempenho superior;

          • Promover impactos sociais e ambientais;

          • Investir em formas consistentes com seus valores e crenças.

Uma nova consciência organizacional.

A terminologia utilizada primariamente por investidores para medir o desempenho do resultado social, ambiental e de governança corporativa das empresas como forma de avaliar melhor o risco e o retorno do negócio, ficou conhecida como Investimento Socialmente Responsável (ISR) ou Investimento de Impacto. O ISR tem como objetivo gerar melhores retornos para investidores que alocam seus recursos financeiros em fundos e índices específicos e evoluiu para o termo ESG, que inclui empresas que atendam ou excedam altos padrões éticos, sociais e ambientais.

Da mesma forma que os critérios ESG podem ser utilizados para avaliar e investir em empresas com práticas ambientais e sociais excepcionais, eles também podem ser usados para avaliar empresas que algumas pessoas consideram moralmente repreensíveis.

Como vários estudos e pesquisas tem constatado, as empresas que adotam estratégias e programas de ESG, de modo geral, apresentam avaliação de retorno superior e menor risco do que as suas competidoras.

A Evolução do Conceito ESG.

Historicamente, a evolução do ESG começa no âmbito da Ética e Responsabilidade Social Empresarial (RSE) a partir dos anos 1950 e 1960 nos Estados Unidos.

Embora a RSE se tornou um fenômeno generalizado no mundo dos negócios, o seu conceito ainda é considerado vago, complexo e ambíguo. A abrangência do tema é refletida na quantidade de terminologias e expressões que, às vezes, confundem os empresários e gestores em geral, tais como sustentabilidade empresarial, cidadania corporativa, gestão socioambiental, ética nos negócios e filantropia empresarial.

A agenda da RSE começou com a noção de que a organização existe para gerar lucro para seus proprietários e investidores, expressa na clássica visão de Milton Friedman: a responsabidade social dos negócios são “o negócio”.

No final do Século XX, a RSE sofreu uma reviravolta, quando passou a abranger uma visão mais ampla dos negócios, compreendendo que a responsabilidade social das empresas é para com todos os “stakeholders” (partes interessadas).

Esta revisão radical no pensamento da gestão tem aumentado significativamente de lá para cá, levando inclusive a redefinição e reforma do próprio capitalismo, exemplificada, entre outras, na diversa literatura sobre a economia circular.

Se no início do século XX, as organizações eram focadas exclusivamente na industrialização, no lucro e na sobrevivência, agora elas passam a ser uma rede de pessoas (stakeholders) que se interconectam para ter um olhar além da prosperidade econômica, mas a noção de “uma boa vida”, em que se inclui o bem estar social e a preservação do planeta.

Nesta tendência, os investidores, sobretudo os institucionais e os chamados “investidores conscientes” ou “sustentáveis”, passaram a demandar e avaliar fatores que consideram importante na atuação da empresa, como sistemas de gestão do ESG e capacidade de promover impactos sociais e ambientais relevantes.

Isso levou as empresas a incorporar o desafio de serem poderosas protagonistas no desenvolvimento da prosperidade econômica, social e ambiental de clientes, colaboradores, investidores e a própria sociedade.

Os índices e fundos socialmente responsáveis.

Neste contexto, nos anos 1990, surgiu o ESG como um indicador para o mercado de que empresas com preocupações éticas, de governança, meio ambiente e envolvimento social de todas as partes interessadas devem ser avaliadas e premiadas separadamente.

Assim, começaram a surgir no mercado de capitais, sobretudo após a crise financeira de 2008, inúmeros Índices diferenciados projetados, gerenciados, medidos e relatados, os denominados Índices ESG – bem como diversos fundos de investimentos que segregam em carteira própria o suporte de portifólio de empresas éticas e socioambientalmente responsáveis e com regras claras de governança.

O primeiro índice ESG foi o Social Domini 400, criado em 1990. Nos últimos cinco anos, houve uma explosão de novos índices e fundos ESG. Entre as centenas de índices mais conhecidos incluem-se: Dow Jones Sustantainability Index (DJSI), STOXX Europe 600 ESG-X, FTSE4Good, MSCI ESG, Ethibel, S&P ESG Index e Thomson Reuters Developed Markets, ESG (TRESGDX) e Bloomberg’s Environmental and Social Scores. No Brasil destacam-se o Indice de Sustentabidade (ISE), Índice de Carbono Eficiente (ICO2) e Índice de Governança Corporativa, todos da Bolsa de Valores B3.

Para exemplificar o efeito de desempenho superior, a Carteira Verde (predecessora da ESG) da Ativa Investimentos teve desempenho de 32,2% em 2019, acima do Ibovespa (que teve 22,7%).

A corrente principal dos Investimentos de ESG não são todavia encontrados como uma receita definitiva de três partes: o E, o S e o G. A integração é alcançada quando as questões de ESG, fatores, ferramentas e técnicas são aplicados em toda a prática de investimento em apoio a requisitos do cliente.

Assim, diversos índices podem ser específicos a um tema determinado, como por exemplo, o Índice de Igualdade de Gênero, o Índice de Prestação de Contas de Sustentabilidade e o Índice de Emissão de Gases do Efeito Estufa.

Embora o ESG ainda seja um tema controverso entre profissionais de investimento e acadêmicos, o fato é que ele vem crescendo exponencialmente em todos os mercados, com as mais diversas metodologias e scores. De acordo com um Relatório da ONU, havia US$86 trilhões em ativos sustentáveis no ano de 2019, valor que dobrou nos últimos cinco anos.

Igualmente, como veremos a seguir, as práticas ESG influenciam o desempenho das ações, estabilidade, percepções populares e inúmeras outras variáveis favoráveis ao negócio.

O Business Case do ESG.

Centenas de estudos acadêmicos tem buscado comprovar que os investimentos éticos ou sustentáveis fornecem retorno financeiro maior para os investidores do que outros investimentos tradicionais, bem como igualmente maior retorno financeiro para a empresa que possui programas de ESG. Isso é conhecido como “efeito Alpha”.

Hoje, como estas pesquisas e diversas evidências têm demonstrado, empresas com um programa eficaz de ESG criam melhorias para a governança corporativa, gestão ambiental e de recursos na organização e sociedade, sobrepujando a performance de seus competidores. Alguns dos benefícios óbvios do ESG incluem:

          — Impacto social e ambiental, melhorando o bem estar social;

          — Custos operacionais mais baixos e uso de recursos;

          — Atração e retenção de talentos;

          — Melhor desempenho e comprometimento dos colaboradores;

          — Fidelidade do cliente com base em valores éticos distintos;

          — Estratégias mais fortes de gerenciamento de risco corporativo;

          — Maior valor econômico e de marca;

          — Maiores fluxos de receita derivados de fontes éticas, produtos e investimentos socialmente responsável;

          — Menor consumo de energia e material;

          — Uma plataforma para educação e aprendizagem de líderes conscientes.

A análise destes benefícios permite sugerir que o ESG pode ser considerado fonte de vantagem competitiva e é, portanto, um imperativo no atual ambiente de negócios para a empresa não perecer.

A busca de uma correlação entre critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) e o desempenho financeiro corporativo (CFP) pode ser rastreado até o início da década de 1970. Acadêmicos e investidores publicaram mais de 2.000 estudos empíricos e várias análises estudos sobre essa relação desde então.

Apenas para citar um exemplo, uma pesquisa feita pelo professor George Serafein, da Harvard Business School, em 2016, demonstrou que empresas ESG tiveram desempenho superior a longo prazo.

Como implementar o ESG na empresa.

Vivemos uma transformação profunda na filosofia de gestão empresarial. Como decorrência desta necessidade de gestão, avaliação e sobretudo, prestação de contas, da RSE e sustentabilidade empresarial, o mundo corporativo vem experimentando o surgimento de vários indicadores, instrumentos e modelos de gestão e avaliação do impacto socioambiental, ético e de governança corporativa das empresas, tais como o Pacto Global, o GRI, a ISO26000 e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas para 2030 (ODS).

É comum organizações éticas e socialmente responsáveis definirem seu propósito em função do impacto que desejam produzir na sociedade e meio ambiente, estabelecendo claramente suas regras de governança corporativa e como irá engajar os stakeholders. E para implementar tais práticas adotam modelos diversos, pois não faltam na literatura várias metodologias de gestão ética, social, ambiental e de governança corporativa.

Estratégias de ESG envolvem o jeito da empresa “fazer negócios”.

Pode-se considerar o Programa ESG como o guarda-chuva gerencial que irá abranger todas as ações da empresa no âmbito da ética, governança corporativa e práticas sociais e ambientais. Para ser bem sucedido, este Programa deve estar no coração da estratégia corporativa e envolver as operações diárias da empresa.

Para implementar um Programa ESG, sugerimos 4 etapas para a sua gestão efetiva nas organizações:

1. Criar Valor Compartilhado.
Para orientar um Programa ESG, a empresa pode se basear naquelas questões e demandas que dizem respeito aos seus stakeholders. Também pode se orientar nos vários indicadores ou critérios de avaliação que os índices compartilham, como os fatores comumente utilizados abaixo:

          — Ambiental — risco ambiental, emissão de gases de efeito estufa, auditorias, incidentes poluidores, estratégias de reciclagem, ações ambientais, ecodesign e inovação;

          — Social — preocupação com a saúde e satisfação dos colaboradores, adesão a quotas de diversidade e inclusão, cultura corporativa, serviços e relacionamento com clientes, trabalho voluntário, ações sociais e filantrópicas na comunidade;

          — Governança — propósito, compliance financeiro, saúde fiscal e financeira, direito dos acionistas, gestão de talentos, estratégia de ação, código de ética, prevenção de acidentes de trabalho.

2. Incorporar o ESG na estratégia organizacional.
O ideal é que a empresa, de acordo com sua cultura organizacional e peculiaridade, não se restrinja a índices e fundos existentes para montar seu Programa ESG, pois isso pode ser limitante para um sistema mais abrangente, profundo e significativo. Para isso, a organização pode tomar como ponto de partida quatro grandes fontes básicas:

          — Propósito Organizacional;

          — Social e Ambiental (definido a partir de dois vetores: o ramo de negócio da empresa e os impactos socioambientais que ela provoca);

          — Problemas e demandas sociais e ambientais da comunidade onde a empresa atua; e

          — Legislação vigente.

3. Definir e medir o desempenho ESG.
A empresa precisará mapear e medir seus impactos socioambientais e de governança com base na materialidade, ou seja, a relevância das questões e riscos que afetam o negócio. A materialidade, por exemplo, é um princípio básico que compõem o bastante utilizado Relatório de Sustentabilidade padrão GRI que inclui os assuntos e indicadores necessários para que os stakeholders opinem e possam tirar conclusões sobre o desempenho ESG.

Outro roteiro muito utilizado pelas empresas é o Mapa de Materialidade da Sustainability Accounting Standards Board (SASB) que identifica 26 questões de sustentabilidade que provavelmente afetarão a condição financeira ou o desempenho operacional de empresas de um setor.

4. Comunicar e prestar contas.
A auditoria dos resultados e a prestação de contas aos stakeholders é fundamental para o sucesso das melhores práticas em ESG, uma vez que ela permitirá o controle gerencial bem como o aprendizado e melhoria contínua.

Entre os Fatores Críticos de Sucesso (FCS) para estratégias e um Programa ESG eficientes, podemos incluir:

          — o engajamento da liderança e seus processos decisórios,

          — a cultura organizacional e

          — inserção das ações do Programa no Planejamento Estratégico do negócio, com indicadores mensuráveis.

É essencialmente importante também o comprometimento de todos os colaboradores, já que as estratégias de ESG são incorporadas no dia a dia do negócio, para obtenção de retorno a médio e longo prazo.

Afinal, como se costuma dizer: “Fazer o bem faz bem para os resultados do negócio!”.


Fonte: administradores.com


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