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Fraudes contábeis e auditorias: um debate sobre missão e responsabilidades.

Por Sebastian Soares | Presidente do Instituto de Auditoria Independente do Brasil (Ibracon)

Recentes polêmicas de fraudes contábeis em grandes empresas trouxeram à tona, mais uma vez, a discussão sobre a missão e a responsabilidade dos auditores independentes na detecção de fraudes. Numa análise do recente debate público, no entanto, é possível perceber que ainda persistem muitos equívocos acerca do papel de cada estrutura corporativa nessa questão – o que dificulta a apreciação sobre os melhores caminhos para avançar nas medidas regulatórias e aprimorar o ambiente de negócios como um todo.

A auditoria independente desempenha, sem dúvidas, um relevante papel na divulgação das demonstrações contábeis das empresas. Seu principal objetivo é examinar os números e documentos fornecidos pela companhia auditada, com a finalidade de verificar se as demonstrações financeiras foram preparadas, em todos os aspectos relevantes, de acordo com as normas de contabilidade aplicáveis, a fim de refletir a posição patrimonial e financeira da empresa em uma data específica. Essa análise tem um impacto significativo na credibilidade das demonstrações financeiras, transmitindo confiança aos investidores e outros participantes do mercado.

Dentro do debate sobre fraudes contábeis nas empresas, é essencial esclarecer a missão e as responsabilidades de todas as partes envolvidas no ecossistema de relatórios financeiros, e não apenas das auditorias independentes. De acordo com a regulação vigente, portanto, a diretoria da empresa assume a responsabilidade por estabelecer processos operacionais e financeiros, garantindo a conformidade com as leis, estatutos e códigos de conduta organizacionais – o que inclui a implementação de controles internos eficazes e programas para previnir fraudes. Já o Conselho de Administração, eleito pelos acionistas e em sua maioria indicados pelos controladores, se encarrega de eleger, destituir e fiscalizar a gestão, as contas e os relatórios apresentados pelos diretores, atuando como intermediário para prestar contas aos acionistas. Também se responsabiliza de selecionar ou destituir a Auditoria Independente.

Nessa estrutura, os auditores entram em cena para opinar sobre as demonstrações financeiras, tendo como base o trabalho realizado pela diretoria da empresa, supervisionado pelos órgãos de governança. O auditor, um agente terceiro e independente, fornece uma “asseguração razoável”, com base em técnicas de amostragem e relevância. Nesse contexto, a conclusão do auditor depende substancialmente do dever de diligência dos administradores, da qualidade dos controles internos e das informações fornecidas pela administração da empresa, destacando a complexidade da tarefa de detectar fraudes e irregularidades financeiras. Com uma compreensão mais clara dos trabalhos e das funções de cada agente, fica evidente como a opinião do auditor independente não constitui uma garantia absoluta de que não existem distorções relevantes nas demonstrações financeiras.

Frente a casos de fraude, é inquestionável a importância de conduzir apurações rigorosas para identificar os responsáveis. Da mesma forma, é fundamental manter o constante aprimoramento das legislações que regem o âmbito empresarial como um todo, para que fiquem cada vez mais bem delimitadas as funções de cada estrutura corporativa. Atualmente, já existem iniciativas legislativas que buscam introduzir relevantes melhorias para todo o ecossistema empresarial, mas que ainda precisam distinguir melhor a responsabilização dos auditores independentes e dos controladores. Além disso, os aprimoramentos que ocorrem na profissão como programas educacionais, cursos de atualização e treinamentos mantém os auditores em sintonia com as mudanças regulatórias, tecnológicas e de melhores práticas de mercado.

O ambiente empresarial está sempre em constante evolução e, nesse contexto, o setor de auditoria continua a desempenhar um papel essencial ao agregar confiabilidade das informações financeiras. Para avançar no debate regulatório sobre o combate a fraudes da forma mais produtiva e racional possível, é necessário buscar um entendimento global sobre a missão e as responsabilidades de cada estrutura dentro das corporações. Seja por meio de regulamentações aprimoradas ou pela constante busca pela excelência profissional, a auditoria segue sendo uma parte fundamental do sistema de controle que sustenta as relações empresariais e, por extensão, a economia como um todo.

Fonte: Ibracon


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