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Por uma gestão viável

Por uma gestão viável

Uma das experiências marcantes que eu pude testemunhar ao longo da minha vida como empresário me foi proporcionada por uma empresa da área de tecnologia, no Rio de Janeiro, há alguns anos. Naquela época, foi uma opção ousada incluir sócios, com quotas simbólicas, mas que, somadas, representavam um percentual expressivo do capital social, sem, contudo, colocar em risco o controle acionário da organização. Estava criada uma nova cultura de trabalho, em que o comprometimento deixou de ser objeto de discurso e o sentimento de pertença, fundamental para os bons resultados, veio à tona.

As empresas brasileiras que apostam na inovação, trabalham pela diversificação de seus produtos e apostam na criatividade para aumentar o leque de receitas – sem perder o foco do negócio principal – estão entendendo mais cedo que a palavra “crise” pode, sim, ser sinônimo de oportunidade, conforme defendem, com muita propriedade, meus colegas professores da Fundação Getulio Vargas. Mas não podemos acreditar em soluções mágicas para os problemas que o empresariado brasileiro enfrenta, e, por isso, muitos vêm agindo preventivamente.

O fato é que as pequenas e médias empresas, que representam 40% do PIB nacional e 53% dos empregos, lutam bravamente para sobreviver, enquanto o trabalhador vive na instabilidade e teme o desemprego, pois sabe que o mercado não promete oportunidades de recolocação em curto prazo. Prova disso já vem com os últimos dados divulgados pelo IBGE na semana passada, sobre a queda do emprego industrial, relativa ao período de novembro de 2013 a novembro de 2014. A queda, de 4,7%, foi o 38º resultado negativo consecutivo no país e o 17º em Minas, que apresentou uma redução de 4,5% e disputa a liderança do mau desempenho com São Paulo, onde o índice de queda é de 6,1%.

“As empresas brasileiras que apostam na inovação, trabalham pela diversificação de seus produtos e apostam na criatividade para aumentar o leque de receitas estão entendendo mais cedo que a palavra ‘crise’ pode, sim, ser sinônimo de oportunidade”

Após três anos consecutivos de crescimento pífio, o ano que se iniciou não projeta melhorias do nosso PIB, mas, sim, um mais que modesto 0,3%. Outro ponto que preocupa o futuro do país é a consideração como integrante do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) ou não integrante. Já se fala de outros países integrarem esse seleto grupo de emergentes, como é o caso da África do Sul, o que cada vez enobrece menos ainda a posição do Brasil devido, principalmente, à performance da nossa economia nos últimos anos. O efeito prático da nossa exclusão desse grupo seria a redução ou a eliminação do fluxo de investimentos estrangeiros para o país, o qual funciona como válvula propulsora do crescimento, por meio dos novos investimentos, os quais são aplicados em infraestrutura, nas áreas médica e social, dentre outras, gerando empregos, renda e qualidade de vida para o nosso povo.

Não é preciso ser economista nem astrólogo, nem vidente, para concluir que o caminho mais viável para a retomada do crescimento do país e, consequentemente, do emprego é o investimento na produtividade e, para tanto, o governo tem que se focar na redução da carga tributária. Há que se mudar o discurso de mais tributos, pois isso só desestimula o empresário. Com maior produtividade, haverá maior crescimento do PIB, que resultará em maior receita tributária para o fisco e mais emprego para a população.

Com relação à arrecadação tributária, há que haver uma modernização na legislação, o que também já é senso comum, haja vista que temos mais de 2.500 atos tributários de alta complexidade, gerando complexidade de controle e alta carga tributária, bem como relevante custo das empresas para controlar as áreas fiscal e tributária e também para prevenir que multas milionárias, em caso de infração, venham a comprometer a saúde financeira e a continuidade das operações, até mesmo de organizações de grande porte. E isso ocorre porque historicamente temos um governo fiscalizatório e punitivo, e não educativo, que não tem interesse em agir preventivamente. Essa mesma arrecadação, agressiva ao setor produtivo, deve se constituir num fator importante e motivador para que o novo governo comece a olhar para a realidade. Afinal, os impostos é que alimentam os programas sociais, enquanto as empresas mantêm em giro a roda da economia, gerando um ciclo virtuoso necessário para o crescimento do país.

 


Artigo publicado no Jornal Tudo, de Minas Gerais, em 21/03/2015.

 

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