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Viver é a maior imersão profissional que você pode fazer.

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Há poucos dias, resolvi andar de bicicleta depois de muitos anos sem andar sobre duas rodas. Andar de bicicleta me traz boas lembranças de um bom tempo que vivi. Morando hoje no Rio de Janeiro, não é tão simples andar de bicicleta. Faltam ciclovias, o custo de uma bicicleta é alto. Mas é possível usar um aplicativo e andar de bicicleta sem ser proprietária efetivamente de uma. Benesse da tecnologia.

Então, depois de almoçar calmamente num sábado de outono, peguei a bike e me atrevi a andar de bicicleta. Dizem que quem aprende, nunca mais esquece…confiei nisso… Os desafios começam quando você escolhe usar um aplicativo, uma bicicleta coletiva e não abre mão de um passeio por não ter um veículo próprio. Eu poderia ter desistido por não ter uma bicicleta própria, por não ter ciclovia perto da minha casa. Mas eu fiz as minhas escolhas. E, ao longo da tarde, fiz várias reflexões que gostaria de compartilhar aqui.

As pessoas nem sempre seguem regras. Não conheço todas as regras para ciclistas. Mas sei algumas que me parecem mais bom senso do que regras. Porém, as pessoas não seguem estas regras e você precisa aprender a lidar com pessoas que você nunca viu na vida e, que talvez não veja mais, mas que estão no seu caminho e não seguem regras.

Nem sempre você seguirá as regras. Depois de vários momentos de revolta por ver pessoas não seguirem regras, eu mesma me peguei ultrapassando alguns sinais vermelhos e fiquei horrorizada com a minha falta de atenção. Paro? Peço desculpas? Sigo em frente mais atenta? As pessoas que não seguiam as regras, era por falta de atenção?

Há diferentes cheiros, cores e sons. Passeando pela orla eu ouvi pagode, samba, funk e forró. Ouvi idiomas diferentes e ouvi um pouco da conversa alheia e dei palpite mentalmente. Senti cheiro de peixe, carne e maresia. Você entende por que ama o Rio de Janeiro e ainda está aqui em meio ao caos. Você aceita melhor as escolhas que fez.

É preciso ter equilíbrio para andar de bicicleta. Ao longo do passeio fui alternando a velocidade, descobrindo a melhor forma de sentar-se no banco. Não dá para fazer ultrapassagens sempre, nem sempre andar em linha reta e é preciso saber parar a tempo de um acidente já que a chance de você encontrar alguém distraidamente feliz é alta.

Paciência não é uma opção. Tem gente a pé, correndo ou caminhando, de bicicleta, de skate, de patins. Trabalhando ou se divertindo. Estão todos na pista. Nem todos podem ser ultrapassados, assim como nem todos conseguem ultrapassar você. Às vezes, é preciso tomar uma decisão rápida ou esperar a próxima janela para fazer uma ultrapassagem. Paciência é obrigatória.

Você não precisa andar sozinho. Você pode andar de bicicleta só, com amigos, interagindo com as pessoas ao redor. Pode apostar corrida. Pode andar junto somente por um pedaço do caminho. Pode ajudar alguém. Pode ser ajudado. A comunicação e a colaboração estão presentes quando você anda de bicicleta.

Você precisa fazer escolhas. Escolher para onde ir, se irá sozinho, se dá tempo de atravessar o sinal que está amarelo, se faz uma ultrapassagem ou não. Em algumas escolhas você acertará, em outras você terá até um arrependimento…O importante é se manter na bicicleta.

Ter ou não um destino em mente não atrapalha o prazer do passeio. A primeira vez que andei de bicicleta, tracei um destino de partida e de chegada. Já na segunda vez, me preocupei menos com o destino e mais em saber o quanto eu poderia aprender e me exercitar naquele passeio. Nos dois passeios eu fui feliz. Ter ou não ter um destino, não fez diferença para mim.

Eu não sou contra imersões profissionais, mas penso que atividades ao ar livre, interagindo com estranhos e com imprevistos, podem trazer muitos aprendizados e reflexões interessantes sobre quem nós somos e como lidar com o outros. Estas habilidades levamos para a vida, incluindo a profissional.


A Lopes, Machado Auditores não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).